
Os números do analfabetismo no Brasil têm apresentado quedas constantes nos últimos anos, o que é muito positivo. Mesmo assim, o país ainda conta com 11,5 milhões de jovens e adultos analfabetos. São pessoas que não sabem ler ou escrever um simples bilhete, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.
O indicador é preocupante, pois coloca o Brasil entre os países com o maior número de analfabetos do mundo. Pouco mais da metade das pessoas deste grupo vivem na região Nordeste e têm mais de 60 anos. Portanto, o dado ainda reflete um déficit histórico da educação, sobretudo em áreas rurais.
Não raro, muitos tentam voltar aos estudos por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Mas, há uma série de fatores que dificultam a permanência desses alunos no curso. Neste artigo, discutimos um desses problemas: a infantilização do ensino. Entenda por que essa prática não é recomendada e conheça outra alternativa viável para o problema.
Como funciona a Educação de Jovens e Adultos (EJA)?
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino voltada a pessoas que não concluíram os ensinos Fundamental e Médio no tempo apropriado. Portanto, a EJA não se limita à alfabetização.
Este modelo está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que prevê a garantia de acesso gratuito à educação, nas escolas públicas, àqueles que não tiveram oportunidade de concluir os estudos. O documento prevê também que a educação de jovens e adultos seja articulada com o ensino profissionalizante.
Encceja
Depois de concluir os estudos na EJA, os alunos podem prestar o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Com esta prova, é possível obter os diplomas de conclusão dos ensinos Fundamental e Médio. Para isso, é preciso alcançar pelo menos 100 pontos em cada disciplina.
Adequando a metodologia de ensino a este público
Acostumados a trabalhar com crianças, muitos professores levam as mesmas práticas pedagógicas para o ensino de jovens e adultos. Há, portanto, uma tendência de reproduzir na EJA o que é realizado no ensino regular, sobretudo nas atividades de alfabetização.
No entanto, é um erro pensar que as mesmas técnicas que funcionam com crianças servirá para ensinar jovens e adultos. Veja a seguir as razões para evitar a infantilização neste modelo de ensino.
Os interessantes são diferentes
O primeiro e mais evidente motivo para evitar a infantilização do ensino na EJA é o fato de se tratar de um público diferente do ensino regular. Sendo assim, os interesses também são distintos.
Jovens e adultos são maduros e esperam atividades práticas e contextualizadas. Sua meta, geralmente, é aprender a ler e escrever ou, então, concluir os estudos para conseguir empregos melhores. Por isso, é preciso que o ensino esteja relacionado à realidade desses estudantes.
Risco de desmotivar o aluno
Ao ocupar o tempo em sala de aula com atividades infantilizadas, corre-se o risco de desmotivar os alunos. Este, aliás, é um dos fatores que mais contribuem para que os níveis de evasão na EJA sejam altos.
O que ocorre é que, muitas vezes, os jovens e adultos sentem-se diminuídos quando tratados como crianças. Além disso, sem a devida contextualização, esses alunos não conseguem ver aplicabilidade dos temas ensinados. Assim, dificilmente darão continuidade aos estudos.
O método desenvolvido por Paulo Freire
O educador Paulo Freire era um crítico ferrenho da infantilização do ensino na EJA. Ele reprovava o uso das cartilhas como objeto de ensino de jovens e adultos, pois o material empregava frases repetidas, descontextualizadas e construídas de forma forçada, como: “Eva viu a uva” ou “O boi baba”.
Para ele, essa linguagem das cartilhas impedia a inserção desses alunos em um contexto social e político. Por isso, desenvolveu um método de alfabetização voltado exclusivamente para o ensino de jovens e adultos. Essa prática consiste em três etapas:
- Investigação. Professor e aluno devem buscar, juntos, palavras e temas relevantes na vida do estudante. Nesta etapa, o objetivo é encontrar palavras do universo vocabular do aluno;
- Tematização. Neste momento, os alunos analisam os significados sociais das palavras e temas encontrados na primeira etapa, ao mesmo tempo em que trabalham suas estruturas, como sílabas e sons;
- Problematização. Depois de refletir sobre os significados, o professor convida o aluno a repensar sua postura diante dessas palavras e temas, visando uma conscientização sobre o mundo que o rodeia.
Na prática, em vez de trabalhar com palavras aleatórias e forçadas, a alfabetização acontece a partir de vocábulos contextualizados à realidade do aluno. Ao mesmo tempo, há uma reflexão sobre o sentido dessas palavras, estimulando assim o pensamento crítico.
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