
É fato que durante todos os anos já vividos até hoje, as mulheres sempre estiveram presentes em uma constante luta por respeito, visibilidade e reconhecimento por seu trabalho.
Por isso, no mês das mulheres não há nada melhor do que trazer à tona a vida de mulheres que marcaram a história com toda a sua coragem, força e luta!
Vidas e histórias como essa não morrem, não envelhecem e devem inspirar diariamente. Portanto, acompanhe o artigo e conheça-as!
MULHERES QUE MARCARAM A HISTÓRIA:
Dandara:

Muito mais do que esposa de Zumbi dos Palmares, Dandara viveu durante o período de escravidão e dedicou a sua vida a lutar contra o sistema escravocrata.
Não se tem informações concretas de onde ela nasceu, mas ainda bem pequena chegou no Quilombo dos Palmares e lá passou a construir sua história. Participou de embates físicos, dominou técnicas de capoeira e ofereceu toda sua ajuda na criação de estratégias de resistência.
Além disso, Dandara estava presente em atividades cotidianas daquele povo na época, tais como a caça e agricultura, principalmente com alimentos como milho, feijão, batata-doce, banana e cana-de-açúcar.
Foi a partir de 1630 que os ataques a Palmares tornaram-se frequentes, o cenário trouxe dor, fragilidade e desumanidade. Então, a história de Dandara e de seu marido, Zumbi dos Palmares, mudou totalmente.
O primeiro líder, Ganga-Zumba, tio de Zumbi, fez um acordo com as autoridades, eles teriam permissão para realizar comércio livremente enquanto que em troca deveriam entregar escravos fugitivos que ali buscassem abrigo.
Dandara e Zumbi foram contra esse acordo, já que não eram a favor de qualquer tipo de violência ou situação escravocrata. A liberdade pregada por Ganga-Zumba era para poucos e Dandara não concordava com isso.
Ganga-Zumba acabou sendo morto por um dos palmarinos contrários à sua proposta. Então Zumbi dos Palmares tornou-se líder do movimento de liberdade daquele povo. Dandara, caminhando ao seu lado, partilhava e lutava pelos mesmos ideais.
Apaixonada por sua liberdade, Dandara resistiu por muito tempo e se tornou um importante símbolo de resistência. Infelizmente, tirou a própria vida quando capturada se jogando de uma pedreira ao abismo para não retornar à triste e dolorosa condição de escrava.
Enedina Alves Marques:

A luta de Enedina Alves, a primeira engenheira negra do Brasil, tem um grande significado até os dias de hoje. Isso porque as mulheres ainda precisam provar diariamente que são aptas a exercer suas funções.
Naquele tempo a situação era ainda mais delicada, mas Enedina não abaixou a cabeça. Enquanto estudava Engenharia, trabalhou como professora para bancar os estudos e viveu abrigada na casa de uma família se envolvendo em um projeto de alfabetização para adultos.
Ainda que, após a sua formatura, tenha conseguido um cargo como auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas do Paraná, Enedina sofreu para impor sua voz como mulher negra e profissional.
Os ambientes de obras eram totalmente dominados por homens e o respeito era quase nulo. Enxergavam Enedina como frágil e incapaz. Pensamentos que rondam a vida de muitas mulheres até os dias atuais.
Por essa razão, a engenheira passou a carregar uma arma para que pudesse impor respeito. Sempre que queria falar, dar opinião ou manifestar sua insatisfação a qualquer postura machista, ela dava tiros para o alto para amedrontá-los.
No âmbito profissional, Enedina é lembrada por ter contribuído em projetos importantes para a época. A engenheira morreu em agosto de 1981, aos 68 anos. Ela foi encontrada morta em seu apartamento no centro de Curitiba, vítima de um infarto.
Carlota Pereira de Queirós:
Educadora, médica, escritora e política. Carlota Pereira de Queirós foi a primeira mulher a se eleger deputada federal no Brasil, em 1934.

Seu desejo de se candidatar mesmo tendo uma plena vida profissional como médica, envolvia a luta pelos direitos das mulheres brasileiras, já que os políticos da época pouco olhavam para questões femininas.
Ao assumir o cargo, a sua participação envolveu a Revolução Constitucionalista contra o governo de Getúlio Vargas em 1932. Carlota organizou um grupo de mais de setecentas mulheres para fornecer atendimentos médicos para os que, porventura, acabaram se ferindo durante o movimento.
Seu mandato foi em defesa da mulher e das crianças. Durante seus anos como deputada trabalhou por melhorias educacionais que atendessem melhor as mulheres. Além disso, publicou uma série de trabalhos em defesa da mulher brasileira.
Até as primeiras décadas do século XX, as mulheres não podiam votar e muito menos ocupar cargos políticos. Portanto, a história de Carlota além de abrir espaço para uma nova perspectiva de política, também fortaleceu mulheres a darem este grande passo para transformar o mundo a partir da esfera política.
Chiquinha Gonzaga:

Chiquinha Gonzaga é uma das maiores musicistas da história do Brasil, foi a primeira mulher a reger uma orquestra no país. Sua vida foi marcada pelo sucesso na música, o desafio à sociedade patriarcal do período regencial e à luta abolicionista.
Neta de escravos, ela foi obrigada a se casar aos 16 anos e sua luta começou quando ela se revoltou com os maus-tratos de seu marido. Chiquinha Gonzaga enfrentando seus próprios medos, saiu de casa e entrou na música doando tudo de si.
Chamava a atenção nas rodas boêmias do Rio de Janeiro por ser independente e por fumar em público, algo que não era considerado de bom tom para mulheres.
Vencendo mais uma barreira e abrindo as portas para derrubar um grande tabu dando lugar ao poder feminino, Chiquinha teve sua carreira musical construída com muita persistência e dificuldade, já que mulheres musicistas também não eram bem vistas.
A sua participação na música foi essencial para a definição da identidade artística brasileira no início do século XX.
Sua história é lembrada até os dias de hoje como uma grande desafiadora do padrão da época, não apenas por sua carreira na música e por ter posturas que não eram bem aceitas por mulheres. Mas também por declarar-se abolicionista.
Raimunda Putani Yawanawá:
Nascida na tribo Yawanawá, na Terra Indígena do Rio Gregório, Acre, Raimunda Putani Yawanawá foi a primeira mulher de sua tribo, junto com sua irmã, a se oferecer para o treinamento de pajé, no ano de 2005.

Essa escolha levou ela a enfrentar a resistência de muitos membros da tribo, inclusive do seu próprio marido, o pajé Bira.
Levantando-se de forma corajosa, Raimunda e sua irmã foram as únicas que tiveram coragem de fazer juramento ao Rarê, a planta sagrada do povo Yawanawá.
Sua história também foi marcada pela bondade, pois além de enfrentar toda essa resistência ao se oferecer para pajé. Raimunda também orientava as crianças, aconselhava os jovens e mostrava o caminho àqueles que buscavam harmonia.
Por serem mulheres desafiando as próprias leis e tradições, Raimunda e sua irmã Kátia ficaram isoladas durante um ano inteiro. A alimentação durante esse período era precária, com apenas alimentos crus e foram, inclusive, impedidas de beber água, apenas um líquido à base de milho.
Desta forma, puderam fazer o juramento a planta Rarê Muká, sagrada em sua cultura por abrir a mente para o conhecimento e a cura.
Atualmente, Raimunda é como uma embaixadora da cultura Yawanawá, recebendo homenagens do poder legislativo por seu trabalho com seu povo e inspirando mulheres a continuar lutando com determinação, força e bondade.
Elza Soares:
Muito mais do que uma cantora, a história de Elza Soares a mostra como uma grande e forte sobrevivente.
De família pobre e simples, Elza, já aos doze anos de idade, foi obrigada pelo pai a abandonar os estudos e casar-se com um amigo, que havia tentado abusar dela. Após o casamento, ela sofreu muito por conta da violência doméstica e sexual.
Com 13 anos, ela já estava grávida do seu primeiro filho. Ao total, ela foi mãe de sete filhos. Mas passou por grandes perdas e situações extremamente delicadas Aos 21 anos, já havia velado o primeiro marido e dois de seus filhos que morreram de fome.
Garrinchinha, outro filho de Elza, morreu aos nove anos de idade, em um acidente de carro que derrapou na estrada e caiu de uma ponte em um rio.
Sua outra filha, Dilma, foi sequestrada por um casal de sua confiança fazendo-a passar por anos de tormenta imaginando que o pior havia acontecido novamente. As duas apenas se reencontraram anos depois, quando Dilma já era adulta.
Após tantos episódios traumatizantes, a cantora ficou desamparada. Elza tentou suícidio, passou a tomar fortes antidepressivos, até decidir deixar o tratamento e viajar a trabalho.

Sem dúvidas, a vida pessoal de Elza Soares apenas fortalece o quanto a sua vida é inspiração de força, garra e resistência. Hoje, como uma das maiores cantoras de todo o Brasil, ela também precisou enfrentar situações de machismo e racismo extremamente pesadas em sua carreira.
Em razão de toda essa determinação, a cantora se tornou um símbolo para os que lutam pelo fim do racismo até os dias de hoje.
Tarsila do Amaral:
Um grande ícone do movimento modernista brasileiro, Tarsila do Amaral, sacudiu a arte nacional na década de 1920. Sua manifestação era diferenciada e sua rica obra é a prova disso.

Nascida em Capivari em uma família de cafeicultores, com apenas 16 anos, Tarsila pinta seu primeiro quadro. Mais tarde, em 1920, vai estudar arte em Paris, na França, na Academia Julian, escola de pintura e escultura.
Desde cedo Tarsila não se calava pelos estereótipos machistas da sociedade de sua época. Ainda jovem, se recusava a aceitar casamentos forçados e mantinha pulso firme ao ser questionada acerca disso. Seus próprios irmãos a descreveram como ousada.
Ao casar-se com André Teixeira, sofreu muito, pois o mesmo a traía constantemente e era contra o desenvolvimento artístico de Tarsila. O marido da artista propagava o pensamento de que as mulheres serviam apenas para dedicar-se aos cuidados de casa e aos filhos.
Insatisfeita com a relação, mesmo com sua filha Dulce, Tarsila pediu o divórcio. Como não era algo muito positivo para a época, a escolha dela gerou um desconforto familiar, mas ainda assim ela se recusava a viver de aparências.
No fim de sua vida, Tarsila continuou a dedicar-se a sua arte, mas veio a falecer no dia 17 de janeiro de 1973, aos 86 anos, devido a complicações pós-operatórias geradas por uma cirurgia que a deixou paraplégica.
Atualmente, a artista já foi tema de peça teatral, contando também a história de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti, parceiros de Tarsila na famosa Semana de Arte Moderna.
Sua carreira artística segue inspirando todos os apaixonados pela arte ao redor do Brasil e do mundo.
Zuzu Angel:
Zuleika de Souza Neto foi mãe, estilista, empresária e militante com uma força admirável. Ela ficou conhecida por seus trabalhos como estilista no Brasil, mas o mundo teve conhecimento a respeito de sua história durante o período da ditadura militar no país.

Iniciou sua vida profissional abrindo uma loja em Ipanema e, conforme recebia aceitação do público por suas peças inovadoras, ela expandiu seu trabalho para os EUA. Foi vitrine de grandes lojas estampando vestidos, bolsas e teve como clientes algumas atrizes famosas da época.
Sua história apenas toma um rumo diferente a partir do desaparecimento do filho. Em 1971, ele é preso e como protesto Zuzu transformou sua vida em uma batalha incansável em busca de informações sobre o paradeiro do filho.
Criou peças que traziam força e garra que era manifestada nas ruas. Roupas pretas, véus, crucifixos e cintos, tudo isso incorporando elementos que denunciavam a situação política brasileira com tanques de guerra, canhões, meninos aprisionados e anjos amordaçados.
Mais a frente, Zuzu descobre que ele foi assassinado a mando do governo e, mesmo em meio a dor, transforma o luto em mais forças para lutar.
O fim de sua vida foi um grande conflito. Em 1976, sua filha, Hildegard, recebera um telefonema pela madrugada notificando um acidente de carro que viria a ser a causa da morte.
Hildegard Angel, descrente desse episódio passou anos tentando entender o que realmente havia acontecido, porque a história do acidente não lhe parecia verdadeira. Ao mesmo tempo, ela não queria acreditar que a maldição do assassinato havia caído sob sua família novamente.
Após anos, a Justiça brasileira reconheceu que Zuzu Angel foi assassinada por agentes da ditadura militar. Finalmente com justiça sob essa dolorosa perda, a União teve que pagar uma indenização de R$ 240 mil para cada uma das filhas da estilista.
Marta:
Conhecida mundialmente por sua ilustre carreira no futebol, Marta tem uma história marcada por muita luta.
A atleta teve uma infância bem humilde no interior de Alagoas. Sua paixão pelo futebol surgiu ainda bem pequena.
Como naquele tempo as mulheres quase não praticavam esse esporte, Marta tinha que jogar com os garotos.
Como consequência, ela enfrentou muitas críticas e preconceito por parte das pessoas que não estavam acostumadas a ver uma mulher nesse ambiente.

Marta ignorou tudo isso e continuou em busca de seu sonho. Mas não foi fácil, já que os próprios jogadores tentavam machucá-la durante os jogos, fazendo o técnico tomar a drástica decisão de afastar Marta e impedindo qualquer participação feminina.
Ainda lutando contra todos os preconceitos e dificuldades, Marta dedicou anos de sua vida ao esporte e, quando não estava jogando, procurava formas de ajudar sua família trabalhando.
Futuramente, esse mesmo trabalho foi a sua principal fonte de renda para conseguir ir para o Rio de Janeiro fazer alguns testes para o Vasco e Fluminense.
Atualmente, com uma história de muita persistência, Marta é um ícone do futebol. Foi eleita pela FIFA, seis vezes, como a melhor jogadora de futebol do mundo, entre os anos de 2006 a 2010 e em 2018. Foi Bola de Ouro em 2004 e 2007 e Chuteira de Ouro em 2007.
Maria da Penha:
Maria da Penha é uma farmacêutica brasileira, natural do Ceará, que sofreu constantes agressões por parte do ex-marido. Por sua história foi criada a Lei Maria da Penha que tem como objetivo proteger a mulher da violência doméstica e familiar.
Tudo começou para Maria da Penha quando ela se apaixonou pelo colombiano, Marco Antônio, que se naturalizou brasileiro logo após o casamento dos dois. A história que a princípio parecia ser um grande sonho se transformou no maior pesadelo da farmacêutica.
Foram constantes situações de agressões seguidas de pedidos de desculpas que faziam tudo amenizar entre eles, mantendo-a cada vez mais abalada pela situação. Como não havia nenhuma delegacia da mulher naquela época, Maria da Penha mal tinha a quem recorrer.
As agressões tomaram uma proporção tão grande que, em 1983, Marco Antônio tentou matá-la com um tiro enquanto ela dormia. Apesar de ter escapado da morte, Maria da Penha teve sua vida transformada depois disso, pois recebeu a notícia de que não poderia andar mais.
Já paraplégica, Maria da Penha, voltou para casa e sofreu por uma nova tentativa de assassinato pelo marido. Dessa vez, ele tentou eletrocutá-la pelo chuveiro elétrico.
Após muitos anos sofrendo e tendo em seu corpo danos irreparáveis, Maria da Penha criou coragem e denunciou seu agressor.
Mesmo fragilizada, Maria da Penha continuou sua luta e escreveu um livro contando toda a sua história durante todos os anos que passou casada com Marco Antônio.

Após a prisão do agressor, visando ter sempre na memória a luta da farmacêutica e evitar que a história se repetisse, a lei Maria da Penha foi validada.
Com isso, muitas mulheres criaram força para denunciar. Portanto, pode-se dizer que Maria da Penha é um grande símbolo de força na luta contra violência doméstica.
Essas são apenas algumas das mulheres que fizeram história e que inspiram movimentos de luta até os dias de hoje. Que o Dia Internacional da Mulher não seja apenas uma data comemorativa, mas um momento de reflexão.